domingo, 14 de novembro de 2010



Lembro como era bom compartilhar minha felicidade com os amigos, falar pelos cotovelos sobre alegrias que soam até ofencivas àqueles que não entendiam o que se passava no interior do corpo em festa.Eu costumava ser uma alegoria ambulante.Agora a festa terminou, os copos estão espalhados pelo chão, os pratos sujos, silêncio absoluto, ficou o vazio devorador de uma solidão impossível de ser contada.Qualquer coisa que eu fizer será inútil, o fim é uma parede, impossível atravessar, fica-se exatamente onde se está, inerte,até que uma porta, um dia, num passe de mágica, venha a ser desenhada no meu futuro.Mas, por ora, não existe futuro, não existe passado, não existe o tempo, eu olho a chuva pela janela e ela existe lá fora, eu não existo aqui dentro.







*******************************










Peguei meu carro num domingo e fui passar o dia na praia.Me levei embora de mim. Queria ver o mar, foi a desculpa que me dei.Não podia admitir que precisava ouvir uma pessoa estranha me contar o que há do outro lado desse abismo.Queria que alguém me enganasse com a melhor das intenções.Procurei o tal bruxo que não era bruxo, e sim proprietário de uma loja de artigos indianos.










***********************************


Quanta gente precisa de um engano bem gratificado.






************************************






Pronunciei meu nome calmamente, como se estivesse mentindo.Ele disse:"Você deveria ter vindo antes.Fazia tempo que não via uma mulher tão machucada."


Ele tinha o produto que eu queria para pronta-entrega: a esperança mais fuleira, uma ilusão de quinta categoria.Eu só necessitava de uma boa mentira para enfiar no bolso, uma mentira que ficasse comigo até pelo menos eu voltar para casa.Ele me deu várias, eu paguei corretamente pela alienação que fui buscar e antes de eu ir embora ele colocou a mão no meu ombro e me olhou de um jeito que dava a impressão de estar mais assustado que eu: "Você vai atravessar paredes."





Martha Medeiros

Nenhum comentário:

Postar um comentário